quarta-feira, 20 de maio de 2015

The Zero Theorem e o existencialismo

"Life is a mystery
 Everyone must stand alone
 I hear you call my name
 And it feels like home."
                (Madonna - Like a Prayer)


Em mais um filme provocante, Terry Gilliam nos transporta para um labirinto de pensamentos e crítica moderna em seu 'O Teorema Zero'.

A análise que faço desse filme é o que Nietzsche gostava de dizer de seus livros: 

- É um filme para poucos!

Uma verdadeira jornada que nos leva a questionar a nossa existência.





Esse filme havia passado num horário terrível na minha cidade atual. Acredito que o público que assiste esse tipo de filme aqui no Brasil deve ser tão pífio que os cinemas e as distribuidoras devem evitar ao máximo a exibição do mesmo. Então, não foi possível assistir no cinema. Algum tempo atrás, baixei uma versão na internet, com excelente imagem mas com péssima legenda e eu ainda prefiro assistir filmes com legendas.

Então, finalmente ele saiu em DVD/Blue Ray e pude comprar. Ontem pude assistir com calma e ver realmente que se trata de uma obra prima. Obra prima essa que pouquíssimas pessoas vão conseguir enxergar. Recomendo fortemente as pessoas de mente aberta e críticas assisti-lo.

Não vou fazer uma resenha, mas apenas destacar pontos do filme que nos levam a uma imersão de nossa realidade.

Primeiro, no enredo, o personagem é um hacker. E de fato, o que me chamou a atenção nele como hacker não foi sua excentricidade, mas sim a capacidade de resolver ou de trabalhar com problemas complexos. Hackers são pessoas que trabalham ou lidam com coisas complexas e não executores de simples programas. Então, um hacker sendo usado para resolver um 'problema matemático' tão complexo é algo que descreve bem a essência de um fuçador. Há uma frase clássica do matemático Peter Sarnak  descrita no livro 'A Música dos Números Primos' que me vem a mente:

- Se Gauss fosse vivo, ele seria um hacker!

Segundo, a busca pelo sentido da vida é uma constante em mentes inquietas. Mais cedo ou mais tarde, tais mentes passam a questionar a existência e tentam de alguma forma, até mesmo usando a matemática e a programação, achar uma resposta a tais questionamentos.

Terceiro, o filme consegue categorizar bem a fuga da realidade. Recentemente, eu li um artigo que cita que é preciso ser corajoso para viver sóbrio. Em outras palavras, a grande maioria (todos?) dos seres humanos procura uma fuga da realidade, seja por meio de drogas, fumo, bebidas ou mesmo por imergir em outras realidades como religião, meditação e etc. O filme descreve o que a realidade virtual pode vir a significar para muitos humanos, ou seja, significará a fuga da realidade.

Quarto, o personagem refere-se a si mesmo como "Nós". Eu achei isso fantástico, porque de fato, cada ser humano, apesar de único, é dentro de si uma maré de personalidades distintas que emanam de um consciente em constante disputa. São as inúmeras vozes que há em cada ser humano se degladiando ao se tomar decisões. E nada mais sincero que se referir a si mesmo como 'nós'.

Quinto, o filme retrata bem a futilidade de muitas coisas. Chega ao cúmulo de um jovem chamar todo mundo de Bob para liberar espaço de memória para coisas mais importantes. Vemos ainda um destaque interessante a sociedade de consumo que nada mais é como 'ferramenta' para grandes empresários. E de fato, o que os consumidores são na sociedade atual a não ser uma ferramenta para se manter o lucro do grande capital?

Sexto, o filme destaca a compulsão que as pessoas tem pelo trabalho secular. Hoje, se vive para trabalhar e não o contrário. Vivemos num sistema em que as pessoas são 'ferramentas' no sentido de serem usadas como engrenagem para a máquina capitalista de produzir riquezas. Não se trata mais da luta pela sobrevivência, mas sim de pura e verdadeira escravidão. O filme descreve bem esse aspecto e de certo modo descreve para onde esse 'modo de vida' leva as pessoas e com certeza não é algo bom.

Assim como outros filmes de Terry Gilliam, em especial o filme 'Brazil', esse também tem um final de revirar o estômago, se você realmente entender. De modo geral, a humanidade prefere virar uma realidade fantasiosa do que encarar a brutalidade da vida. Vivemos num mundo mal e de pessoas egoístas, onde o comum é pisar nos outros e destruir as suas vidas. Então, de fato, existimos e vivemos em constante busca para encontrar o sentido disso tudo e para isso o Teorema Zero tem de ser solucionado.

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