sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Hannah Arendt, Eichmann e a banalidade do mal

Em nome de interesses pessoais,
muitos abdicam do pensamento crítico,
engolem abusos e sorriem para quem desprezam.
Abdicar de pensar também é crime.
                                                        (Hannah Arendt)

Adolf Eichmann foi um líder nazista responsável pelo transporte e transferência de judeus durante o regime nazista na Alemanha. Existe muita informação errada a seu respeito, inclusive na própria Wikipedia, e o livro de Hannah Arendt serve para trazer uma verdade sobre vários aspectos envolvendo esse homem e a liderança judaica que apoiou os alemães durante o governo nazista.





Diferente do que a Wikipedia descreve(Eichmann como um dos organizadores do Holocausto), o livro da Hannah Arendt - Eichmann em Jerusalém - descreve Adolf Eichmann como um burocrata, uma pessoa medíocre e sem sentimentos. E que não mandava nada no regime nazista, apenas obedecia de modo eficiente. E realmente,  chega-se a essa conclusão ao se informar a respeito do mesmo.

Esse livro é único, pois traz um relato muito interessante sobre como pessoas comuns podem participar, mesmo que indiretamente, em assassinatos e políticas de governos autoritários. Descreve ainda a participação ativa de lideranças judaicas em auxiliar os nazistas na logística de envio de judeus para campos de concentração. 

Trata-se de um livro para abrir mentes e mostrar até onde o ser humano é nefasto e capaz de fazer coisas em benefício próprio. Cidadãos comuns que são capazes de fazer o que lhe mandam sem questionar o resultado final de suas ações. Infelizmente, esse tipo de gente ainda é maioria no mundo.

Hannah Arendt critica fortemente o espetáculo em cima do julgamento de Eichmann e mostra que não houve julgamento e muito menos justiça, mas sim um ato premeditado de execução. 

Esse livro pode ser descrito como um livro para poucos, já que não ha como ser indiferente aos questionamentos que ele levanta.

Indo na contramão, recomendo um filme que fala sobre o Julgamento de Eichmann abordando outra ótica, a das pessoas que foram responsáveis pela transmissão do julgamento para o  mundo todo - The Eichmann Show:


O filme mostra que havia um propósito por parte dos produtores e cineastas em tocar a audiência para as questões referentes ao massacre de judeus nos campos de concentração e tentar retratar Eichmann como um animal(sem sucesso). 

Também aborda o desafio que é se manter indiferente frente as imagens de extermínio em campos de concentração.

Para completar minhas sugestões, recomendo o filme que fala sobre Hannah Arendt e seu famoso discurso em uma universidade americana onde expõe de forma corajosa seus argumentos sobre o artigo que ela fez sobre o julgamento de Eichmann - "Hannah Arendt - Ideias que chocaram o mundo".



Nesse filme, são abordados pontos que são bem esmiuçados no livro Eichmann em Jerusalém e que vale a reflexão.

É difícil resumir um assunto tão complexo em livros e filmes, mas podemos destacar dois pontos que não dá pra passar despercebido:

I - A banalidade do mal indica que qualquer ser humano(pelo menos a maioria) pode se tornar um ser autoritário em potencial e executar crimes sem crise de consciência. A pergunta que devemos nos fazer é:


- Seria eu um criminoso de guerra se o sistema onde moro me forçasse a tal?


II - Nunca se deve confiar totalmente em lideranças humanas. Isso fica evidente na participação de lideranças judaicas em apoiar os nazistas na transferência de judeus para campos de concentração e organizar esses campos de concentração.

Hannah Arendt chega a afirmar que morreriam muito menos judeus em campos de concentração se as lideranças judaicas não tivessem ajudado os nazistas.

Esse é um assunto bem controverso, já que toca numa questão que até hoje as lideranças judaicas evitam discutir.

O que eu aprendi com o exemplo de Hannah Arendt é que devemos levar a discussão adiante mesmo que ela seja polêmica. E que a verdade sobre fatos tão nefastos deve ser dita, ainda que isso possa tocar na ferida de alguns.

Hoje, mais de 70 anos após o término da guerra, vemos ainda os germes do nazismo e autoritarismo em quase todas as nações. Então, essas obras são atuais e devem ser analisadas. Em breve repassarei mais informações sobre essa temática e outros livros de Hannah Arendt.

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