segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Transcendence e Como criar uma mente

"Computerised, voice synthesised, call me the mech man
In a world of machines, what can I do but to serve?
Store the data and calculate
Speak and spell and operate
Engineer the rail and motorway
Automaton of yesterday"

                                Machine - Theatre of Tragedy

Ano passado passei quase um dia inteiro num shopping center com minha esposa esperando o início de uma sessão do filme Transcendence que iria começar às 21h30. Ao terminar de assistir ao filme fiquei meio confuso se tinha gostado ou não. O filme é bem parado, mas realmente é inteligente. 


No entanto, algo me chamou muito a atenção nesse filme. As ideias de transhumanismo de pessoas como Ray Kurzweil. Eu já tinha lido uns livros e artigos dele e visto o documentário 'Transcendent Man', então a associação foi imediata.



Ray Kurzweil afirma que em breve teremos uma 'singularidade'. Um ponto no tempo onde as máquinas e os humanos passarão por uma mudança e se mesclarão de tal forma que máquinas inteligentes superarão os humanos em inteligência e outras capacidades, ao mesmo tempo em que humanos irão usar recursos de máquinas tais como nanobots, expansores de memória e etc, tornando-se mais capacitados. Vai ser difícil definir o que é máquina e o que é humano.

Em seus livros, "A era das máquinas espirituais" e "The singularity is near", Ray Kurzweil descreve  sua principal temática que é a lei dos retornos acelerados, que nada mais é que um estudo de quebra de paradigmas de tecnologia em tempo exponencial, sendo que no primeiro, ele cita ainda avanços em inteligência artificial tais como robôs que pintam e criam arte. Já em "Como criar uma mente", ele faz uma descrição de como será possível em breve criar uma mente usando recursos computacionais e descreve o funcionamento de partes do cérebro.

Os livros são bons. O documentário também. Leva-nos a refletir sobre até onde a tecnologia vai nos levar e como nos preparar para discutir questões complexas como - o que é livre-arbítrio e se as máquinas um dia terão tal 'liberdade'.

No entanto, vejo que mesmo com toda pesquisa envolvida por Ray Kurzweil e outros que 'pregam' a singularidade e transhumanismo, há um ponto que passa despercebido. Não raro, as análises e gráficos são feitos baseados 'apenas' nos avanços de hardware. Ou seja, acredita-se que basta o hardware se tornar mais rapido e 'automaticamente' teremos computadores inteligentes e poderemos até criar uma mente.

Na prática a teoria é outra. Ainda não sabemos ao certo o que é inteligência e nem mesmo o que é consciência. De modo que, não basta apenas olharmos para o hardware - conexões neurais/poder de processamento - temos de enxergar muitas outras coisas.

Um ponto a considerar é que os algoritmos atuais de inteligência artificial são ótimos para executar tarefas específicas em domínios específicos. Tem havido muitos avanços na implementação de algoritmos de aprendizagem de máquinas, mas ainda estamos engatinhando em campos complexos tais como sistemas adaptativos(Coloque um robô fora do seu domínio ai você poderá ver a inteligência dele).

Ray Kurzweil cita muito em "Como criar uma mente" a utilização de 'modelos
ocultos hierárquicos de Markov' como um algoritmo que pode ser generalizado para se obter sistemas inteligentes. Mas podemos ver que os modelos ocultos de Markov tem aplicabilidade semelhante as Redes Neurais Auto Organizáveis, Rede Bayesiana e etc e tende a apresenta os mesmos problemas que esses algoritmos apresentam.

Então, podemos ter uma super-máquina, mas ainda teremos de criar software - algoritmos inteligentes  - capazes de gerar inteligência. Não acredito que a barreira seja apenas processamento. Vejo também a necessidade de se criar algoritmos mais inteligentes.

Em um post futuro, falarei mais sobre a questão de quão complexo é simular um cérebro humano e as limitações que vemos na IA.

Um comentário:

  1. Antes de tudo, nunca me surpreendo com as ideias arrojadas de um Sci-Fi, mas “Transcendence – A Revolução” não é um desses filmes carregados de complexidade. Este thriller de ficção científica mais de 100 minutos, eu gostei. Transcendence é um filme estranho e muito futurista que eleva a curto prazo um futuro muito sombrio para toda a humanidade. A coisa interessante sobre este filme é o debate e o dilema moral que surge quando se discute os limites da ciência e tecnologia. Transcendênce é o primeiro filme que fez Wally Pfister, diretor de fotografia de quase todos os filmes de Christopher Nolan.

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